sábado, 3 de março de 2007

Folksonomia: acostume-se com este termo

Ela começa a dar as cartas em aplicações Web 2 0, e será a base da tão falada Web de terceira geração.


Mal as empresas e profissionais atuantes no meio digital se acostumaram com a realidade da Web 2.0, e as conversas e as especulações a respeito da Web 3.0 já começam a acontecer. Muitos afirmam que a nova onda seria um aperfeiçomento do atual estágio, onde a busca contextualizada organizaria de forma mais inteligente e customizada todo o conteúdo disponível na Web.

Muitos acreditam que esta nova maneira de fazer internet encontra sua base na folksnomia. Apesar do nome um tanto complicado, as aplicações utilizando esta forma de indexação já são bem conhecidas, tendo em sites como del.icio.us, Flickr e YouTube seus maiores exemplos. Estes sites, conhecidos por seus conteúdos colaborativos, se utilizam de tags definidas por seus próprios usuários para indexar as informações publicadas. Estas tags são a referência utilizada pelas comunidades para efetuarem suas próprias buscas.

Não é à tôa que o termo folksonomia contém o prefixo "folks" ("pessoas", em inglês): as indexações feitas obedecem aos critérios absolutamente pessoais e naturais de cada usuário, comunidade ou rede social que as criam e utilizam. As tags são compartilhadas, classificadas e acessadas pelas comunidades, seguindo critérios "naturais" de indexação.

Este tipo de indexação se conjuga de forma bastante eficaz com os sites de conteúdo colaborativo, porque abole as estruturas "clássicas" de organização hierárquica de informações e permite que informações relevantes para os usuários sejam encontradas apenas mencionando-se uma tag no campo de busca, dispensando buscas por índices ou diretórios.

Este dinamismo na busca certamente dará origem a uma busca totalmente contextualizada e personalizada, que muitos acreditam que será a base da Web 3.0.

Será o próprio usuário quem indexará os assuntos de seu interesse e os catalogará e compartilhará com outros usuários. Por isso, por meio da folksonomia, será possível identificar, por meio das tags, quais grupos de pessoas estão interessados em, por exemplo, chocolates belgas. E se for interessante identificar dentro deste grupo quais pessoas preferem o chocolate branco, isso também será possível.

As possibilidades comerciais deste tipo de busca avançada parecem ilimitadas. Teoricamente, será possível atingir com precisão cirúrgica o público-alvo desejado. Gerar leads de vendas com potencial de concretização bastante alto, já que fazer ofertas adequadas para o público correto será uma tarefa que envolverá menos riscos.

"Anarquia"?

Por outro lado, uma questão precisa ser considerada: justamente por ser um tipo de indexação que é gerada a partir de gostos pessoais, como organizar essa torrente de informações de forma "global"? É praticamente impossível que se consiga obter um padrão de indexação nesta realidade - e mesmo a adoção de um padrão faria o termo "folksonomia" perder o sentido. De qualquer modo, essa classificação altamente pessoal de termos de busca poderia levar a uma espécie de "anarquia" de informação. Afinal, cada pessoa tem um método de classificação de assuntos, o que teoricamente poderia tornar a busca mais complexa e limitar a troca de informações, justamente por ser difícil "advinhar" o que cada usuário considera relevante para determinada tag.

Isso pode ser visto num exemplo hipotético envolvendo o YouTube: se um usuário publica um vídeo com trechos de um velho desenho animado dos Flintstones, nada impede que ele o classifique sob a tag "hanna barbera". Do mesmo modo, um outro usuário pode ser mais específico e classificar um vídeo semelhante com uma tag diferente: "flintstones". Um terceiro pode ter um critério mais sentimental e cravar a palavra "nostalgia". Todas as tags têm critérios válidos. No entanto, como agrupar tudo isso de forma organizada? Porque evidentemente este conteúdo poderia ser interessante a outros usuários ou mesmo a anunciantes interessados no target de fãs dos Flintstones. Esta "anarquia" ainda precisa ser devidamente decupada e transformada em informação relevante e encontrável.

A inteligência para discriminar o conteúdo de tags com contextos tão pessoais ainda está para ser descoberta. E, lógico, tem a ver com o desenvolvimento da tecnologia apropriada para identificar nichos de informação semelhantes, mas rotulados de formas diferentes. Pode ser, ainda, que a disseminação da rotulação pessoal de informações dê origem a padrões de indexação "informais". Mas para que isso aconteça, será necessário um certo tempo de maturação dos usuários e do refinamento das tecnologias que possam identificar semelhanças entre conteúdos gerados e catalogados por diferentes usuários.

O desenvolvimento da tecnologia que permitirá tornar a Web 3.0 por meio da folksnomia caminha a passos largos, e muitas empresas sabem que este será o caminho para garantir sua sobrevivência num cenário em que o consumidor é, ao mesmo tempo, o gerador e distribuidor de informações. Evidentemente, muitos especialistas ainda acham que é cedo considerar este cenário factível. A própria história da evolução dos meios digitais mostra que muitos termos são elevados à categoria de "próxima grande onda" acabam não se confirmando como tal.

Talvez seja mesmo muito cedo para se considerar a Web 3.0 como uma possibilidade real, já que apenas agora o conceito de Web 2.0 está se tornando comum para empresas, usuários e profissionais digitais. Mas não se deve menosprezar os futuros efeitos da disseminação dos conceitos de folksonomia.

O IMPACTO DA FOLKSONOMIA NAS BUSCAS

Um fã de futebol quer saber mais informações sobre o campeonato alemão. Como ele pode encontrar estas informações na Web?

No conceito de taxonomia, ou seja, indexação de informações seguindo critérios hierárquicos e de diretórios, ele digita no Google, Yahoo ou qualquer outro buscador o termo "futebol alemão" e vai obter dos "spiders" dos buscadores diversas indicações de sites, portais e blogs que contenham esta expressão em seus conteúdos. Certamente ele vai encontrar informação bastante relevante, mas demandará algum tempo para que ele ache o conteúdo apropriado para sua pesquisa.

Com ferramentas de indexação baseadas na folksonomia, este mesmo fã de futebol pode ir ao del.icio.us, por exemplo, e digitar a expressão "futebol alemão". Ele terá acesso a conteúdos previamente indexados por pessoas com gostos e preferências bastante semelhantes aos dele. Portanto, as chances de o usuário obter, em muito menos tempo, as informações precisas do que ele quer, são muito grandes. E não será difícil ele descobrir, com alguns cliques, que aquela tag reúne endereços de fóruns, álbuns de fotos, blogs e outros conteúdos bastante específicos sobre o tema.

O impacto social da folksonomia é, portanto, considerável. Resta saber como anunciantes poderão se aproximar ainda mais destes nichos tão específicos. Aí, talvez, a Web 3 será mesmo uma realidade.

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